Na ponta da língua e do dedo. Devaneios, críticas e reportagens.

terça-feira, 24 de março de 2009

Buteco armado

Não sei se vocês já pararam para assistir alguns programas esportivos, como o Jogo aberto ou o Terceiro Tempo, da Rede Bandeirantes. Confesso que já gastei meu precioso tempo vendo aquilo - um monte de homens, a maioria rabugentos, discutindo sobre o mesmo assunto até não haver uma vírgula mais a ser dita; um jogador, sabatinado de forma grosseira, tendo que dizer até mesmo onde almoçou no dia anterior ao jogo; um corinthiano, chato, que nem sabe falar direito, e pior, que se acha o tal; um ex-árbitro, mal-educado, mal-informado e, aparentemente, sem conhecimento suficiente da regra; e, claro, uma loira cabeça, "boazuda" e mais agradável do que todos os outros caras juntos. Um verdadeiro buteco armado em sua TV, com direito à Brahma e tudo.
Prefiro o bom e velho Globo Esporte.

domingo, 15 de março de 2009

Síndrome do pensamento acelerado

O homem nunca soube lidar de imediato com mudanças no modo de viver. Teve que experimentar, errar, para depois se adaptar. No entanto, há uma grande peculiaridade nisso: foi ele próprio que desencadeou muitos desses processos transformatórios. Na verdade, ele correu mais do que suas pernas poderiam aguentar.  

A revolução industrial, por exemplo, exigiu do homem atitudes diferentes de tudo vivido anteriormente. Muitos tiveram que sair da zona rural, trabalhar em máquinas desconhecidas, criar novos hábitos. E esse foi só o início. Mais tarde, a globalização fulminante, fruto da revolução, reconfiguraria o mundo de uma forma jamais vista. A informação se tornaria compulsão, a comunicação mundial se estreitaria, o mercado de trabalho viraria uma selva e os laços comerciais ficariam mais fortes.

O mesmo homem que era a grande chave deste processo se perdeu, não acompanhou tamanha evolução saudavelmente. A pós-modernidade trouxe consigo os efeitos colaterais. O cérebro, brilhante, mas limitado, não conseguia acumular tantas informações, ser estimulado tão ostensivamente. A pressa, companheira fiel do homem pós-moderno, fez-se cada vez mais presente. O estresse virou palavra comum a todos. Surgia aí a síndrome do pensamento acelerado.

SPA

A síndrome do pensamento acelerado, SPA, pode não ser uma expressão corriqueira, mas acredite, é mais comum do que se imagina. Augusto Cury, psiquiatra e escritor, descreve-a como fruto da sociedade em que vivemos. Ele ressalta que, hoje, uma criança de sete anos é submetida a mais informações do que uma pessoa com 70 anos de vida no século passado. O cérebro não agüenta impunemente essa sobrecarga.

Como toda síndrome, ela apresenta os seus sintomas. Caso você tenha dificuldade de se concentrar, pense demais no amanhã, odeie sua vida, durma mal ou seja volúvel, tem grandes chances de sofrer desse mal.

E como contornar essa situação?

Ninguém é capaz de viver numa cápsula e se abster de todo mundo ao redor. Mas Cury ressalta: podem ser fixadas prioridades. Isso significa que mesmo no meio desse turbilhão de informações e tarefas, podemos gerenciar nossa vida de forma mais saudável. O lazer é uma das armas mais eficazes para combater a SPA. O homem precisa se desligar, de vez em quando. O contato com a natureza e com uma boa música também ajuda nessa tarefa. 

segunda-feira, 9 de março de 2009

Vida salva?

A gravidez de gêmeos de uma menina de apenas nove anos, estuprada pelo pai, foi o grande assunto dos últimos dias. O fato de um pai engravidar a própria filha já teria carga de noticiabilidade suficiente. Mas o que mais chamou a atenção neste caso foi o aborto dos dois fetos de quatro meses feito pela equipe médica da Maternidade Encruzilhada, com o consentimento da mãe da menina.

Grandes questões éticas foram, então, levantadas. De um lado a justiça, que prevê, neste tipo de situação, a legalidade do aborto; do outro a igreja, que na voz de Dom José condenou o ato, nomeando-o “assassinato de dois inocentes” e, ainda, excomungando os envolvidos no aborto, exceto a menina. Tanto na justiça como na igreja, as opiniões defendidas possuem divergências. Alguns padres, em seus sermões, criticaram a posição do bispo, o chamando de inadequado, enquanto alguns poucos advogados se disseram a favor da vida.

Numa questão complexa como esta opinar torna-se um risco. Como futuro jornalista, prefiro corrê-lo a me acovardar no silêncio. É fato que duas vidas foram brutalmente cerceadas. Com quatro meses os bebês já puderam sentir dor, como qualquer pessoa. Quer dizer, os médicos, que fizeram isso em nome da vida, mataram dois inocentes com requintes de crueldade, por ser uma gravidez de risco. Agora me permita levantar algumas questões:

· Todas as gravidezes são tranquilas?
· Não teriam os médicos meios de evitar a morte da menina grávida?
· Por que optar por eliminar os não-nascidos?

As respostas não são difíceis. A medicina já atuou em prol de casos tão mais graves... Meios de evitar a morte, tanto dos fetos quanto da menina, existiam. Mas eles escolheram o caminho mais fácil, afinal, para que se preocupar com crianças que nem vieram ao mundo?

Estupro

Outros usariam o argumento de que todo filho advindo do estupro não é bem-vindo, já que é fruto de um acontecimento traumático. Pois bem, eles escolheram ser concebidos dessa forma? Quiseram ser frutos de um ato de violência? Óbvio que não. Eles foram mais uma vítima desse louco mundo no qual vivemos. Mesmo assim,segundo muitos, devem ser mortos, eliminados. Os olhos humanos se fecharam para os mais fracos. A vocês digo: pensem o que quiser, mas tenham a certeza de que uma das opções é a vida, a outra é a morte.

sábado, 7 de março de 2009

Salvem o português

Nossa língua sofre na internet. Na pressa, às vezes, até nós escrevemos abobrinhas. Mas a afobação não explica tudo. A má qualidade da educação é, também, uma das principais causas do alto número de palavras escritas incorretamente. Navegando por diversos sites, fiz uma lista dos erros mais comuns:

- As pessoas costumam fazer uma verdadeira confusão ao separar palavras, ou mesmo ao juntá-las. O Orkut ostenta o posto de ser o local com o maior número de assassinatos da língua portuguesa, neste quesito. Há expressões como: encima, devolta, concerteza, derrepente, denovo... Enquanto o correto seria: em cima, de volta, com certeza, de repente e de novo.

- O plural (Ih! Esse é um verdadeiro fantasma para os internautas). Já me deparei com pérolas como “pãos”, “cidadões” e “alemãos”.

- O uso da crase é frequentemente equivocado. Ou ele é negado: (1) Mandei um recado a Maria de Anchieta; ou usado desnecessariamente: (2) Eu já falei à ela. O correto seria:
(1) crase no a, antes de Maria, por ser um objeto indireto – a (artigo) + a (preposição)-
(2) sem crase, já que ela não é usada antes de pronomes.

- A cedilha... Tenho certeza que alguns de vocês já viram por aí essas palavras: esqueçe, pertençe e conçegue. É de doer à alma.

- A concordância é alvo de várias incorreções. “O Corinthians ganharam de 2 a 0”; “Ela e eu fui na praia”, “Me deu três tipo de bebida”.

Está certo que há outro tipo de linguagem na grande rede, mas os erros mostrados aqui não têm explicação, não é? Uma coisa é a falta, outra é o acréscimo - de acentos, de cedilha, de s...
A internet transformou-se num território livre, possibilitando que pessoas antes excluídas pudessem agora usufruir dessa maravilha. No entanto, um retrato da educação precária no Brasil pôde, também, ser vislumbrado. O que dizer de uma população que não consegue dominar a escrita do idioma de seu próprio país? A resposta dessa pergunta não deve ser motivo de piada, mas sim de reflexão, planejamento e ação. A educação já esperou demais.